Eu vivi o período que antecedeu o plano real. Já era adulto, casado e tinha uma filha pequena. Senti a hiper-inflação e os efeitos que causava sobre a nossa vida e sobre a economia do país.
Presidente Collor e sua ministra da fazenda Zélia Cardoso de Mello |
Vivi um sem-número de planos mirabolantes que se mostraram tentativas frustradas para acabar com a inflação. Senti que suas seguidas falhas derrotavam não apenas os seus criadores, mas o espírito dos brasileiros.
Naquele tempo, só sentíamos alegria de sermos brasileiros quando, aos domingos, o Ayrton Senna cruzava as pistas empunhando nossa bandeira!
dispensa legenda! |
Acredito que o plano Real foi a maior "invenção" brasileira de todos os tempos.
A estabilidade financeira obtida através deste plano redefiniu o país social, economica e psicologicamente.
Este plano foi implementado pelo Presidente Itamar Franco e seu ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso. Em qualquer outro país do mundo, eles seriam tratados como verdadeiros heróis nacionais.
Pena que o povo brasileiro tenha tão curta memória.
Pena que parte significativa da população prefere romancear heróis estrangeiros ou ídolos da mídia.
Tenho que preparar, junto com os colegas de grupo, um trabalho sobre o plano Real. Talvez por isso, um amigo me enviou o texto que reproduzo a seguir. Tirem suas próprias conclusões.
Breve relato sobre Ferreira Gullar
Poeta maranhense de riquíssima obra literária, Ferreira Gullar foi, em 2002, indicado por 9 professores de diversas universidades dos Estados Unidos, do Brasil e de Portugal para o Prêmio Nobel de Literatura. Em sua biografia, consta ter-se filiado em 1964 ao Partido Comunista Brasileiro, onde, ao lado de Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes, Thereza Aragão e outros, fundou o "Grupo Opinião". Entrando em 1970 para a clandestinidade, esteve exilado em Moscou, Santiago, Lima e Buenos Aires, período em que foi colaborador do semanário "O Pasquim".
Absolvido, por unanimidade, pelo STF, das acusações que lhe foram imputadas, regressou ao Brasil em 1977. Doutor Honoris Causa pela UFRJ, recebeu o Prêmio Jabuti (2007) e o Prêmio Camões (2010), exercendo atualmente intensa atividade literária e jornalista.
Colaborador permanente da Folha de São Paulo e de outros órgãos da imprensa, foi este ano candidato a membro da Academia Brasileira de Letras. Ferreira Gullar Talvez seja esta a última vez que escreva sobre o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil. Com alívio o vi terminar o seu mandato, pois não terei mais que aturá-lo a esbravejar, dia e noite, na televisão, nem que ouvir coisas como esta: "Ele é tão inteligente que fala todas as línguas sem ter aprendido nenhuma".
É verdade que tivemos, ainda, que aturá-lo nos três últimos dias do mandato, quando "inaugurou" obras inexistentes e fez tudo para ofuscar a presidente que chegava. Depois de passar a faixa, foi para um comício em São Bernardo, onde, até as 23h, continuava berrando no palanque, do qual nunca saíra desde 2002. Aproveitou as últimas chances para exibir toda a sua pobreza intelectual, dizendo-se feliz por deixar o governo no momento em que os Estados Unidos, a Europa e o Japão estão em crise. Alguém precisa alertá-lo para o fato de que a crise, naqueles países, atinge, sobretudo, os trabalhadores. Destituído de senso crítico, atribui a si mesmo ("um torneiro mecânico") o mérito de ter evitado que a crise atingisse o Brasil. Sabe que é mentira mas o diz porque confia no que a maioria da população, desinformada, acreditará. Isso dá para entender, mas e aqueles que, sem viverem do Bolsa Família nem do empréstimo consignado, veem nele um estadista exemplar, que mudou o Brasil? É incontestável que, durante o seu governo, a economia se expandiu e muita gente pobre melhorou de vida. Mas foi apenas porque ele o quis, ou também porque as condições econômicas o permitiram? Vamos aos fatos:
Até a criação do Plano Real, a economia brasileira sofria de inflação crônica, que consumia os salários.
Qual foi a atitude de Lula ante o Plano Real?
Combateu-o ferozmente, afirmando que se tratava de uma medida eleitoreira para durar três meses. À outra medida, que veio consolidar o equilíbrio de nossa economia, a Lei de Responsabilidade Fiscal, Lula e seu partido se opuseram radicalmente, a ponto de entrarem com uma ação no Supremo para revogá-la. Do mesmo modo, Lula se opôs à política de juros do Banco Central e ao superávit primário, providências que complementaram o combate à inflação e garantiram o equilíbrio econômico. Essas medidas, sim, mudaram o Brasil, preservando o valor do salário e conquistando a confiança internacional. Lembro-me do tempo em que o preço do pão e do leite subia de três em três dias. Quem tinha grana, aplicava-a no overnight e enriquecia; quem vivia de salário comia menos a cada semana. Se dependesse de Lula e seu partido, nenhuma daquelas medidas teria sido aplicada, e o Brasil -que ele viria a presidir- seria o da inflação galopante e do desequilíbrio financeiro. Teria, então, achado fácil governar? Após três tentativas frustradas de eleger-se presidente, abandonou o discurso radical e virou Lulinha paz e amor. Ao deixar o governo, com mais de 80% de aprovação, afirmou que "é fácil governar o Brasil, basta fazer o óbvio". Claro, quem encontra a comida pronta e a mesa posta, é só sentar-se e comer o almoço que os outros prepararam. A verdade é que Lula não introduziu nenhuma reforma na estrutura econômica e social do país, mas teve o bom senso de dar prosseguimento ao que os governos anteriores implantaram. A melhoria da sociedade é um processo longo, nenhum governo faz tudo. Inteligente, mas avesso aos estudos, valeu-se de sua sagacidade, já que é impossível conhecer a fundo os problemas de um país sem ler um livro; quem os conhece apenas por ouvir dizer não pode governar. Por isso acho que quem governou foi sua equipe técnica, não ele, que raramente parava em Brasília.
Atuou como líder político, não como governante, e, se Dilma fizer certas mudanças, pouco lhe importará, pois nem sabe ao certo do que se trata. Para fugir a perguntas embaraçosas, jamais deu uma entrevista coletiva. Afinal, ninguém, honestamente, acredita que com programas assistencialistas e aumento do salário mínimo se muda o Brasil. O tempo se encarregará de pôr as coisas em seu devido lugar. O presidente Emílio Garrastazu Médici também obteve, em 1974, 82% de aprovação. FONTE:
Entrevista do poeta Ferreira Gullar à Folha Ilustrada. Data 02/06/2010.
Selecionei dois comentários:
Rubens Torres disse:
De uma lucidez e bom senso impressionantes (Ferreira Gullar). Cabelos brancos e muita estrada da vida e de leitura. Verifico que falta à maioria das pessoas o hábito da leitura para que elas possam evoluir, sem perder suas personalidades. A incoerência que carrega o presidente Lula é de nota máxima, senão vejamos alguns exemplos:
1. Foi pra rua “impedir” o COLLOR, e agora presta-lhes favores empresariais e pessoais;
2. Votou no colégio eleitoral contra o Tancredo Neves e agora vai a Minas Gerais reverenciá-lo;
3. Jogou pedra em todas as privatizações, entrou no governo e não desfez qualquer delas, pois tinha poder para isso, porque aproveita-se das mesmas através dos fundos de pensão para locupletar seu partido e seus companheiros;
4. Entregou o Sistema Eletroenergético do País, ao grupo mais marginal da política brasileira, que é o grupo SARNEY.
Portanto, aos mais exaltados, é melhor agir com prudência e respeitar a opinião desse monstro da literatura poética.
André disse:
De fato, Gullar decepcionou! Ora, Gullar, e a ARENA (DEM), agora você se sente agraciado por ela? Que queda hein? Onde os sonhos de um mundo justo? O apoio aos movimentos, ao povo que luta! NO governo Lula os movimentos tiveram dignidade. Não é fácil lutar contra um passado imenso de desprezo.O Lula começou. Prove-me que o Serra/PSDB fez algo de grande para este país! Está querendo ganhar o Nobel, como o Vargas Llosa? Neste sentido, nada melhor que fugir da luta para ser um vencedor, não é mesmo? Decepção!
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