sexta-feira, 16 de abril de 2010

Filosofia e Ética – Selvino José Assman – pg 117 a 161- Parte 1


A Ética e a Política


O ato de administrar envolve relações entre pessoas, seja na política, na economia, na fábrica, em qualquer organização humana. A administração é sempre um exercício do poder. É neste exercício, o exercício do poder, que se situa a relação entre ética e política. Em geral, o poder é visto como algo que se impõe aos outros, exigindo destes a obediência. Assim, todo poder seria uma forma de violência.

“Se o poder político fosse inevitavelmente corrupto, seria ilusório clamarmos por ética na política.”

A convicção de que falta ética em praticas individuais ou coletivas, e de que falta ética na política, não só revela que estamos insatisfeitos com a forma de nos comportarmos em nossas práticas cotidianas, com o comportamento dos políticos, mas que já não sabemos o que é bom e o que é mau!!

Kant: “falar de falta de ética seria indício, em quem faz a denuncia, de uma falta de coragem para ser autônomo, de uma falta de responsabilidade, preferindo-se a comodidade da heteronomia, que sustenta o espírito crítico de tantos cidadãos”.

É possível ter ética na política?

De acordo com Maquiável, passando pelos liberais e pelos socialistas, não é possível a ética na política porque os políticos não podem ser bons porque os seres humanos também fora da política não são bons. Ao contrário, na idade antiga, Platão e Aristóteles sustentavam que ética e política deveriam combinar.

Em ultima instância, o poder político é a violência legítima. O estado é a comunidade humana que, dentro de determinado território, reclama para si (com êxito) o monopólio da violência física legitima.

Duas maneiras de entender o poder:

i) Algo que alguém tem: uma propriedade, seja um dote natural, ou adquirido.

ii) Algo que ninguém possui como um proprietário, mas algo que só existe enquanto se exerce entre seres humanos. Poder é algo que acontece entre pessoas.

Nosso interesse é na 2ª forma de poder. Por exemplo, o nazismo e o stalinismo levaram ao extremo a idéia de que quem não obedece deve ser eliminado, não tendo o direito de viver!

Como foi possível que o exercício do poder chagasse a este ponto, em nome da justiça, da ordem, do bem comum, em nome da razão? Foi possível por que muitas vezes a democracia ao invés de levar a maior justiça social, leva ao contrário à violência e à corrupção.

O poder como relação entre seres humanos

Filosofia e ciência contribuíram para que chegássemos ao nazismo! Elas não devem ser tratadas como profecias e devem deixar de ser a base para a ação política. Cabe ao filósofo, problematizar (não polemizar), nem apresentar a verdade ou doutrina.

Devemos investigar as relações de poder em que cada um de nós está envolvido, em nossa realidade mais humilde, na empresa, na família, etc. Devemos deslocar o foco de fora para dentro de nós. Assim, segundo Foucault, se não formos capazes de mostrar que é possível mudar nós mesmos em primeiro lugar, se não conseguirmos mudar o exercício de poder em que estamos pessoalmente envolvidos, como podemos pretender que outros venham mudar a situação em que vivemos?

O poder, como tal, não é bom nem mau, mas é algo que simplesmente existe nas relações humanas. Poder não é, portanto, sinônimo de corrupção.

O poder, pois, uma ação de uma pessoa sobre a conduta de outra. Poder não é violência. Assim, só há poder onde há relações entre seres livres. Poder e liberdade caminham juntos. Ambos – quem manda e quem obedece – são livres numa relação de poder. Não se trata de acabar com o poder, mas de mudarmos a forma como é exercido entre as pessoas. É no modo de se exercer o poder que devemos buscar uma relação entre política e ética. Fora do exercício do poder isto não é possível. Não podemos viver sem o poder.

Perigo: Se pensarmos que o poder é algo mal, nós teremos menos capacidade de resistir ao que nos acontece. E se o poder é mau, passamos também a desacreditar que a realidade possa ser mudada.

Quando aceitamos que o poder acontece entre pessoas livres, em que um quer dirigir a conduta de outrem, e em que é sempre possível a resistência, deixaremos de dizer que todos os males se devem aos outros, e não também a quem obedece.

A luta pela ética não será tanto a luta para que as normas sejam seguidas, mas deverá ser a luta para que mantenhamos sempre aberta a possibilidade de sermos mais livres do que já somos. A ética é a pratica refletida da liberdade!

Sem comentários:

Enviar um comentário